Debaixo de um céu estrelado, encontra-se um grande acidente numa auto-estrada.
As ambulâncias chegam ao local passados vinte minutos do sucedido. As pessoas que passavam de carro, paravam, saiam do carro e iam tentar ajudar, mas nada podiam fazer. O carro estava virado para baixo com a dianteira completamente destruída. Dentro do carro encontrava-se um casal idoso, ambos estavam inconscientes. Passados dois minutos da chegada das ambulâncias, chegaram os bombeiros, durante vinte minutos, tentaram virar o carro ao contrário até que, por fim, conseguiram. O carro estava todo desfeito. Um casal de rapazes que iam atrás do carro que teve o acidente, assistiu a tudo e dirigiu-se a uns polícias que ali se encontravam e explicou-lhes o que tinha acontecido. O rapaz não soube explicar porque é que o senhor perdeu o controlo do carro, mas que o perdeu certamente, pois começou aos ziguezagues e acabou por embater com a parte direita nos raids, acabando por capotar. A polícia não tinha suspeitas do que poderia ter causado o acidente, esperavam que o testemunho fosse mais esclarecedor.
Para tirar o casal do carro, tiveram de serrar as portas. O primeiro a sair foi o condutor que era um senhor que aparentava ter os seus oitenta anos, estava banhado em sangue, mas ainda estava vivo, e foi logo levado para o hospital. Os bombeiros estavam com dificuldades em tirar a outra pessoa, pois o seu lado estava todo destruído, haviam poucas esperanças de que a senhora estivesse viva. Serraram imenso metal, com imenso cuidado para não afectar ainda mais a senhora, e quando por fim conseguiram extrai-la é que perceberam que não havia mesmo esperança para aquela senhora, estava completamente desfeita. As pernas tinham-se fundido com o carro e a coluna estava partida.
No hospital tentavam salvar a vida do senhor que, apesar de não estar muito ferido, o que tinha era bastante grave. Uma hora e meia após o senhor ter dado entrada no hospital, os filhos chegaram. A polícia tinha-lhes telefonado a explicar o sucedido e eles foram ter de imediato à Sala de Observações. Depois de os enfermeiros terem feito uma análise ao sangue do senhor, descobriram que ele tinha uma grande quantidade de álcool no sangue.
Os filhos foram informados disso e culparam-no da morte da morte da mãe. Não lhes era difícil culpar o pai, pois já bastantes coisas tinham acontecido entre eles e o pai, e o seu relacionamento não era bom, tendo decidido nunca mais lhe falar.
A partir dai, o senhor, cujo nome era Joaquim Santos Alecrim, mais conhecido por Alecrim, passou a estar a lado da solidão…passaram a ser um só.
Passados oitenta anos de vida, a solidão chegou-lhe perto, tocou-lhe no ombro com uma respiração fria e apoderou-se dele, passou a pertencer-lhe. Passou a entender como foi que o seu pai se sentira quando ele o deixou, percebeu que ia morrer sozinho, sem ninguém ao seu lado para o apoiar. Ficou então mais preenchido por dentro, o que o fez mudar muito, na sua forma de vida e de pensar, através da solidão melhorou os seus poderes psíquicos. Agora era uma pessoa que tinha tempo, e durante esse tempo, pensava naquilo que tinha feito durante toda a sua vida, os bons momentos, os maus momentos, que eram mais que os bons, as vezes em que bateu nos filhos e na mulher, e outras coisas de que ele agora se irritava só de pensar que um dia o fez. Tentou falar com os filhos a pedir-lhes desculpa por tudo aquilo que lhes fez, mas eles já não lhe falavam, era como se ele tivesse morrido para eles. Descobriu que tinha já três netos, imaginou que os pais lhes iriam dizer que o seu avô morreu, ou que lhes iriam dizer que ele morreu num acidente juntamente com a avó, imaginou montes de coisas que lhe podiam contar. Sentia-se frio quando pensava nisso, sabia que tinha a culpa de todos estes acontecimentos, mas o que ele pedia era que apenas o desculpassem e que descobrissem que ele tinha mudado.
Durante dez anos, o senhor Alecrim estudou intensamente a sua mente, o que poderia fazer com ela, vendeu a sua casa no centro de uma cidade poluída e comprou um pequeno terreno numa montanha, onde haviam poucas casas, achou que era ali que iria morrer. Ai conheceu um casal com uma idade parecida à sua, que raramente saíam de casa pois a senhora sofria de artrite reumatóide desde os seus sessenta anos. O senhor Alecrim ia muitas vezes para um pequeno jardim ao pé da sua casa, onde se sentava num banco e por ali ficava bastantes horas sentado a pensar, as pessoas que passavam pensavam que ele estava a dormir, mas não estava a meditar. Fazia o que qualquer pessoa deveria fazer, pensar. Eu adoro ouvi-lo pensar, cada pensamento seu é como uma gota de água da fonte da sabedoria, repleta de inúmeros conhecimentos. Disse-me que anda sempre com um alecrim desde a morte da sua mulher, diz que lhe dá sorte, que a sua vida melhorou realmente desde que decidiu ter um alecrim sempre consigo.
É um homem extremamente saudável, a comida é toda feita por ele, não come fast-food e coisas desse género, é vegetariano. Tudo o que come é ele que planta e colhe. Passa bastante tempo a tratar das suas plantas, fala com elas e elas também falam com ele.
Eu encontro o senhor Alecrim nas minhas viagens astrais, passo horas a falar com ele. No astral, o tempo parece que não existe, é algo que se desvanece com a sabedoria. Numa das minhas conversas com ele, ele referiu que um dos maiores segredos do mundo físico é pensar. Não nos devemos entregar a morte quando estamos sós, devemos aproveitar essa solidão da melhor forma, pensando. Devemos procurar a verdadeira essência em tudo, mas devemos encontrar onde ela está mais perto, dentro de nós.
Um dia, eu tinha chegado a casa, e estava só, deitei-me na minha cama e preparei-me para fazer outra viagem, quando sai do meu corpo físico, vagueei durante muito tempo durante o caminho encontrei vários mestres, e um dele disse-me que o senhor Alecrim tinha morrido, perguntei-lhe se ele me podia dizer onde é que ele estava agora, e disse-me que se encontrava na igreja gnóstica. Quando lá cheguei, segundos após saber o seu paradeiro, senti-me cheio de felicidade e sabedoria, foi a primeira vez que fui à igreja gnóstica. Era das coisas mais bonitas que alguma vez vi na minha vida, é algo inexplicável, é como se não houvesse nada e ao mesmo tempo houvesse tudo. Encontrei então a entidade do senhor alecrim, limitei-me a falar com ele telepaticamente, o seu “Olá”, foi algo que me encheu de felicidade, não era um “Olá” normal, era muito mais que um simples “Olá”. Tivemos uma longa conversa, durante muito tempo, na qual lhe perguntei de como era morrer á qual ele respondeu com uma resposta curta que foi “É lindo!”.
Disse-me que a sensação que se tem é a melhor coisa que existe, sente-se toda a sabedoria do mundo a invadir-nos por um momento, uma questão de segundos, em que vemos toda a nossa vida ali resumida, do inicio ao fim, e naquele nanossegundo do fim, o “click” da separação da nossa alma do nosso corpo, é fantástico. É simplesmente tudo o que algum dia podíamos desejar. Mas não pensem que a vida se resume a um “click”, resume-se a tudo o q aconteceu entre dois “click’s”, no primeiro, quando a nossa alma entra no nosso corpo e no segundo, quando a nossa alma se separa do nosso corpo.
Um barulho berrante de um telemóvel a tocar acordou o João, ele e a mulher acordaram, e o João disse à sua mulher:
-Ai Ana. Acabei de ter o melhor sonho da minha vida.
Fim!
7 comentários:
acho que tens uma imaginação muito boa, e que tens uma ideia da morte ainda melhor... sem palvaras... está brilhante parabéns abraço
David Ferreira
Mais uma visão romântica da morte...
henrique ja que encistes ter mais um coment meu no mesmo post... aqui estou eu para te dizer que te adoro e que es uma grande amigo abraxo da pessoa que mais te atura naquela escola
david ferreira
tá interessante a historia...
Depois dizes que não achas interessante o saber. Se fosses analfabeto, não sabias escrever e também não sabias organizar os teus pensamentos de forma a que formassem este belo texto. És um porreiraço e estas tuas ideias "anarquistas" não combinam nada contigo!
De facto, o teu desenvolvimento intelectual
situa-se num nível superior atendendo à tua faixa etária!! (de certeza…mas para qq comprovação marcamos uma consulta…para ti é de borla…:) eheh)
Henrique: Parabéns pela cultura que transmites ao escrever… cultura esta que não se trata apenas do “saber-ser”…mas conjuntamente o “saber-fazer”!!
Sabes..."Um dos poucos resultados concretos obtidos nos primeiros vinte anos da pesquisa de inteligência artificial, é o facto de que a inteligência requer conhecimento." (Elaine Rich) … Este facto foi observado quando nos conhecemos e vimos que a nossa “ainda pequenina” amizade não entra em rotina…não nos fartamos de conversar… Isto porque tenho um amigo com os mais variados conhecimentos… eheh!! Muito bem!!!!
Agora…não falo da minha pessoa…senão…eheh…ui!!
Beijinho e continua sempre a escrever… e nunca te esqueças que o que é belo nunca morre: apenas se transforma noutra beleza…
P.S: “Não foste tu?…ah!...Então fui eu!! :-) Esta vai ficar!!!
Beij... Sofia / SP
Muito à frente quase que diria que a história tem qualquer coisa de real. Não percebo muito bem os filmes das almas, mas fascina a preocupação com a solidão ou o conhecimento desse tema. num mundo em que esta é uma realidade, mas não aparenta.
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